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Atualizado: 7 de abr.



mulher africana

As migrações fazem parte da história humana, pois é comum que os indivíduos queiram ou precisem se deslocar pelas mais variadas razões. No entanto, por vezes indivíduos tornam-se imigrantes involuntários, pois são obrigados a migrar.


Quando estudamos os antepassados europeus, percebemos que em algum momento houve uma decisão pela mudança de país. Porém, isso não ocorre quando falamos dos negros escravizados, e só por isso, já fica evidente o quanto a liberdade de ir e vir foi, e por vezes ainda é, para poucos.

A migração de africanos escravizados para o Brasil


Com a chegada dos portugueses em terras brasileiras, teve início a colonização, apesar de os povos indígenas já estarem por aqui há muito tempo.


Os colonizadores portugueses usaram a mão de obra indígena e de milhões negros escravizados, e assim, o comércio de pessoas se deu até o século 19.


A escravidão trouxe para as terras brasileiras um grande número de africanos que não tiveram escolha, foram arrancados de suas famílias e de seus países, desumanizados e desconectados de suas origens.


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O regime escravocrata brasileiro


No início, antes mesmo da colonização brasileira, os portugueses ocuparam o litoral oeste do continente africano em busca de ouro.


A população na região era bastante pacífica, de modo que os europeus viram uma oportunidade diferente da esperada, o comércio de negros escravizados.


Por volta de 1470 esse comércio se tornou o maior produto de exploração proveniente daquele continente.


No século XV, Portugal e outros países europeus eram os principais destinos da mão de obra escrava negociada no continente africano. Porém, com advento da colonização das Américas, a rota do mercado consumidor de negros escravizados se alterou.


Assim, o comércio de seres humanos para fins de trabalho escravo tomou uma proporção gigante, se estendendo por muitos anos da história brasileira.


Os negros capturados na África eram provenientes de várias situações. Muitos eram prisioneiros de guerra, condenados por roubo, adultério, feitiçaria, entre outros crimes da época, ou até mesmo indivíduos penhorados como garantia no pagamento de dívidas. Ainda, havia aqueles que eram raptados de pequenas vilas ou trocados por alimentos.


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"A maior parte dos escravos vindos da África Centro-Ocidental era fornecida por chefes políticos ou mercadores, os portugueses trocavam algum produto pelos negros capturados". (Portal da Cultura Afro-Brasileira)

Nesse cenário, eram comuns as tentativas de fuga por parte dos escravizados, tanto pela saudade da terra natal, quanto pelo descontentamento com as condições de vida impostas. Ainda, eram também comuns as revoltas e os suicídios.


Os atos tidos como "rebeldia" eram punidos com torturas como chicotadas, privação de alimento, bebida, entre outras modalidades desumanas. Além disso, muitas vezes era adicionado sal aos ferimentos para provocar ainda mais dor.


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Os Tumbeiros


Os navios negreiros ou navios tumbeiros eram os nomes dados aos navios que realizavam o transporte de escravos, originários especialmente da África, até o século XIX.


Neles, homens, mulheres e crianças eram transportados em compartimentos lotados, escuros e sem nenhuma higiene. Ainda, durante a viagem os negros escravizados conviviam com a fome, a sede, as doenças, a sujeira e os mortos, além de muitas vezes seram levados acorrentados.


Se não havia preocupação com as condições básicas, por certo a mistura de etnias inimigas não era também considerada, gerando desconforto, brigas e mais violência.


"Seus corpos eram marcados pelas correntes que os limitavam nos movimentos, as fezes e a urina eram feitas no mesmo local onde permaneciam. Os movimentos das caravelas faziam com que muitos passassem mal e vomitassem no mesmo local. Os alimentos simplesmente eram jogados nos compartimentos uma ou duas vezes por dia, cabendo aos próprios negros promover a divisa da alimentação. Como os integrantes do navio não tinham o hábito de entrar no porão, os mortos permaneciam ao lado dos vivos por muito tempo". (Portal da Cultura Afro-Brasileira)

navio negreiro

Nessas condições, a única alternativa de liberdade para estes negros escravizados era quando o navio encontrava alguma dificuldade durante seu trajeto, já que nesses casos o comandante ordenava que os negros moribundos ou mortos fossem lançados ao mar.


"A organização da Companhia dos Lagos propunha-se a incentivar e desenvolver o comércio africano e dar expansão ao tráfico negreiro, sua viagem inicial motivou a formação de várias companhias negreiras, tais como: Companhia de Cacheu (1675), Companhia de Cabo Verde e Cacheu de Negócios de Pretos (1690), Companhia Real de Guiné e das Índias (1693) e Companhia das Índias Ocidentais (1636). No Brasil, devido ao êxito do empreendimento, deu-se a criação da Companhia Geral de Comércio do Brasil (1649)". (Portal da Cultura Afro-Brasileira)

No século XIX que as leis por fim proibiram o comércio de negros no Brasil. Contudo, a escravidão permaneceu até 1888.


navio negreiro

A Lei Áurea


Em 13 de maio de 1888, por meio da Lei Áurea assinada pela Princesa Isabel, foi aprovada a abolição da escravatura no Brasil. O texto foi sucinto, mas representou um marco importantíssimo para a luta pelo direito à liberdade dos imigrantes africanos.


"Declara extinta a escravidão no Brasil. A princesa imperial regente em nome de Sua Majestade o imperador, o senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:

Art. 1°: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.

Art. 2°: Revogam-se as disposições em contrário.

Manda portanto a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém.

O secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e interino dos Negócios Estrangeiros, bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de sua majestade o imperador, o faça imprimir, publicar e correr.

Dado no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67° da Independência e do Império.

Carta de lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar o decreto da Assembléia Geral, que houve por bem sancionar declarando extinta a escravidão no Brasil, como nela se declara.

Para Vossa Alteza Imperial ver".


Com a abolição da escravatura, se iniciou um grande incentivo à imigração, principalmente de europeus. E nesse período, a maioria de nossos antepassados provenientes daquele continente vieram para cá por força desse incentivo.


O motivo por trás disso era, na verdade, uma ideologia racista, pois o objetivo final era o de "branquear" a população brasileira.


Além disso, muitos senhores se recusavam a pagar salários aos negros antes escravizados, de modo que a busca por mão de obra branca passou a aumentar.


Nesse período, vieram para o Brasil mais de 4 milhões de imigrantes, dentre eles portugueses, italianos, espanhóis, alemães, japoneses, entre outros.


escravidão

Quais as origens dos imigrantes africanos no Brasil?


A origem dos escravos brasileiros é bastante ampla, percorrendo toda a costa oeste da África, passando por Cabo Verde, Congo, Quíloa e Zimbábue.


A maioria dos africanos que vieram para cá eram divididos em três grupos com destinos diferentes: os sudaneses, os guinenos-sudaneses muçulmanos e os bantus.


Sudaneses


Quanto aos sudaneses, podiam ser iorubás, gêges e fanti-ashantis. Eram provenientes da região onde hoje se encontra a Nigéria, Daomei e Costa do Ouro, e tinham como destino principal a Bahia.


Bantus


Os Bantus eram o maior grupo e podiam ser angola-congoleses e moçambiques. Eram provenientes da região onde hoje se encontra a Angola, Zaire e Moçambique, no centro-sul do continente africano, e tinham como principais destinos o Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo.


Guineanos-sudaneses muçulmanos


Dividiram-se em quatro subgrupos: fula, mandinga, haussas e tapas. Tinham a mesma origem dos sudaneses, porém eram convertidos ao islamismo.


agojies

Número de escravizados e suas regiões


No seguinte gráfico do IBGE é possível verificar o número aproximado de negros escravizados que chegaram no Brasil no decorrer dos anos, bem como suas regiões de origem.


número de escravizados no Brasil

A imigração forçada e a identidade cultural


Diante do tema, é impossível não refletir sobre a liberdade dos povos e o quanto os africanos e seus descendentes tiveram suas identidades culturais arrancadas.


Quando vinham para essas terras como escravos, eram desumanizados e tratados como se não tivessem sua própria história, e por consequência, suas memórias foram sendo apagadas.


Eram provenientes de um grande número de reinos e etnias, mas ao serem escravizados tornavam-se apenas mais um número sem qualquer liberdade ou identidade. E esse apagamento se reflete até hoje, pois poucos são os descendentes que sabem a origem de seus antepassados africanos.


Na genealogia, encontramos muita dificuldade também em reconstruir a história das famílias afro-descendentes. Isso porque os documentos e registros são escassos, quando existem.


africanos

Contudo, entendemos que esse resgate da memória é importantíssimo para os descendentes, pois através da reconexão com a identidade cultural de seus antepassados, bem como o conhecimento da região e da etnia da qual pertenciam, o descendentes desses imigrantes escravizados podem entender mais sobre suas origens e honrar aqueles que tanto sofreram na colonização deste país.


Por fim, é importante também que a memória destas origens possa conectar os descendentes com a força dos povos africanos, com suas potencialidade, valores, e todas as características maravilhosas que foram também bastante apagadas pelo período de escravidão no Brasil.



Fontes:





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