- Bruna Thumé
- 21 de dez. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de mai.

A maioria das pessoas aqui no Brasil está bem familiarizada com a ideia de comemorar o Natal com a família, enfeitar pinheiros, encher a casa de papais noéis, comer panetones e preparar aquela ceia farta.
Mas a verdade é que a maioria desses ritos não carregam mais o mesmo sentido, já que grande parte deles são feitos pelo hábito de se comemorar dessa maneira.
As poucas famílias que comemoram o Natal com uma intenção religiosa, o fazem de uma forma cristã, que já não carrega a mesma ideia dos ritos originários deste período.
Mas você sabe qual a origem destes ritos? Nesse post vamos te contar.

A origem do Natal
O Natal é uma comemoração originalmente pagã, que acontece em quase todo o mundo no dia 25 de dezembro. Contudo, nos países eslavos e ortodoxos, cujos calendários eram baseados no calendário juliano, o Natal é comemorado no dia 7 de janeiro.
Esta comemoração era denominada Yule, e na verdade tinha início no final de dezembro, por volta do dia 21, e só terminava em 1º de janeiro, reunindo a comunidade em torno deste rito durante o período mais frio do ano.
A cerimônia, em sua origem, acontecia para celebrar o nascimento do Deus Sol no solstício de inverno. Isso porque os países nos quais essa tradição se originou são pertencentes ao hemisfério norte, e nessa época de dezembro, estes locais estão enfrentando o início do declínio do inverno, ou seja, o seu ápice.
A palavra Natal deriva do verbo nascor, do latim, que tem sentido de nascer. Assim, trata-se, de fato, de uma festa em comemoração a um nascimento, porém de uma divindade solar, que traz consigo todo o calor de um novo ciclo de vida.

A história cristã
Bem mais tarde, no século III, a festividade foi ressignificada pela Igreja Católica para estimular a conversão dos povos pagãos sob o domínio do Império Romano e então passou a comemorar o nascimento de Jesus de Nazaré.
Do ponto de vista simbólico, faz sentido que a data tenha sido escolhida para a comemoração do nascimento de Jesus, já que Yule celebrava justamente esse renascer da luz, do calor, um novo recomeço para a humanidade.
Ao fazer essa relação, ressalvadas as muitas intenções da igreja católica, o cristianismo relacionou Jesus àquela divindade solar cultuada pelos pagãos, que trazia a luz para a terra.
Além disso, muitos dos elementos simbólicos do Yule foram também utilizados, como a árvore enfeitada, a ceia farta e as estrelas brilhantes, representadas hoje também pelas luzes piscantes na decoração das casas e das árvores.

Natal no calor?
Bem, quem nunca assistiu aos filmes natalinos com ruas cobertas de neve e desejou viver um natal no frio?
Sim, pois o Natal, assim como o Yule, carregam a energia do inverno. E não é para menos, afinal, a celebração era para ser a do solstício de inverno, não é mesmo?!
E só entendendo isso é que toda a confusão começa a fazer sentido.
Temos um natal quente porque, ao importar este rito, a igreja católica não trouxe junto com ele a ligação desta cerimônia com os ciclos da natureza.
E por consequência disso, a grande maioria das pessoas não comemora o solstício de inverno, ou o retorno da luz e do calor, mas sim uma data determinada sem qualquer conexão com os ciclos reais em que o povo está vivendo.
Pela lógica da natureza, o ano teria início na primavera, quando as coisas nascem, e o fim no inverno, quando tudo morre, se recolhe.
No entanto, por essa má comunicação na transmissão dos ritos, comemoramos o inverno e seus símbolos específicos em uma época em que na verdade estamos vivendo o solstício de verão.

As tradições de inverno
Por tudo isso que falamos até aqui, as tradições de Natal são sempre relacionadas ao frio.
Isso porque no solstício de inverno, no ápice do frio, era preciso que as pessoas se unissem em volta do fogo e que buscassem esse aconchego que tanto vemos nos filmes dos natais nevados.
Aqui no Brasil, no hemisfério sul, na época de dezembro estamos enfrentando o calor, a expansão, exatamente o oposto do que traz o espírito do Natal, ou do inverno.
E justamente por isso temos dificuldade de nos conectar verdadeiramente com essa data, pois ela acaba sendo uma cerimônia um tanto artificial para nós, já que está desconectada do ciclo da natureza no qual estamos vivendo.
Assim, vivemos um conflito: enquanto os ritos de natal nos pedem para nos aproximarmos, nos aquecermos, estarmos juntos e protegidos para enfrentar o frio, a natureza nos pede movimento, expansão, independência, ação.

E o que fazer então?
Não iremos mudar a forma como todos comemoram essa data, por certo. Mas faz sentido para nós que possamos nos conectar cada vez mais com os ciclos da natureza, vivendo-os plenamente.
Por isso, independente das comemorações externas, busque viver o que cada estação te pede.
Viva o verão no verão, o inverno no inverno, e não tente se encaixar forçadamente em uma energia contrária simplesmente porque a sociedade, influenciada pela religião, assim decidiu.
Nós não podemos mudar os ritos alheios, mas podemos criar os nossos.

Então, nesse solstício de verão, aqui chamado de Natal, viva o que a natureza espera de você. Estamos chegando no ápice do calor, da luz, do movimento, chamado de Litha pelos povos pagãos.
Para nós, nesse período, nos cabe viver a plenitude, a exaltação da vida, a fertilidade, a força e a preparação para o início do declínio da luz, pois Litha marca o ápice do verão, a maior luz do ano, e partir daí, se inicia um momento de retorno ao frio, que irá culminar com o solstício de inverno no meio do ano.
Assim, tenham isso em mente nos ritos familiares. Tragam o espírito do verão para que as nossas cerimônias possam ser verdadeiras e cheias de vida.
Um feliz Natal e um feliz solstício de verão a todos.

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